27 de julho de 2009

Mulheres... por quê tê-las?

Alguns as tratam com violência e morte. Outros , com afeto sincero. Outros se aproximam em virtude do sexo. Quase todos mentem para elas. A mulher, símbolo do pecado, da luxúria, do erro, nunca foi tão vilipendiada, tão perseguida e acuada. Por quê? Creio que seja a sua retomada de posições no cenário da vida, suas conquistas, ambições naturais. Um ser indispensável. Sua história é marcada por misoginias absurdas. O Deus-hipótese detesta mulheres! Para ele, seu sexo é a maior de todas as perversões, a pior de todas as afrontas á santidade, além de não ser um homem. Certamente jeová nunca deitou-se com uma mulher, nunca sentiu seus aromas, percebeu seus olhares. Tratando-a como lixo e cidadã de segunda classe, o mundo não a reverencia mais... No começo, ela detinha o poder, pela sua capacidade de conceber, de amamentar, da transfiguração de sua própria vida em outro ser, diferente, mas parte sua de maneira íntima. Dos seus complexos órgaos mantenedores de nossa espécie, nasceu a Arte, a Música, o poeta, o juiz e o sacerdote. É detentora do vigor, do músculo forte que abarca tarefas duras, que só mãos delicadas conseguem suportar. Brutalidade não é sinônimo de superação; a determinância de uma sensibilidade, de um furor, é sua marca. Eu ovaciono a mulher, e não espero nada em troca. Tenho-me; sou amado e continuo, eterno, através de minha prole, graças a exemplares desta costela rejeitada, mas que não fazia parte de Adão. Bendita costela!

26 de julho de 2009

Cerebrotonia já - Por uma cidade mais feia e intelectual!

Verdadeiramente não somos cerebrais. Este órgão, tão desprezado e significativamente não-utilizado pela maioria, reinvindica sua aplicabilidade. Músculos têm tomado conta das mentes de muitos: academias e logradouros públicos são invadidos por centenas de milhares de "esportistas", "ginastas", "fisioculturistas", pessoas que buscam a beleza física e há muito deixaram de lado um outro exercício, tão fundamental, e até mais, do que flexões abdominais e estimulação glútea. Quantas pessoas são vistas com livros em praças e jardins coletivos? Quantas são as academias de exercício intelectual ? Bibliotecas não desempenham esta função há muito. Dispostas em vários lugares, são apenas hoje depósitos de livros que não são atrativos, estimulantes, não trazem os praticantes da atividade intelectual ao seu regaço, no mais afastando-os. É bastante atrativo corpos bem torneados, torrados pelos raios nocivos do sol, com pouca roupa e sensuais propositadamente. São belos, mas sem cerebrotonia. Os gregos viam no corpo belo um conjunto - estético e mental - favorável. Não bastava ter belas pernas, dorso bonito ou feições de efebo, era necessário também conhecimento, sensibilidade, intimidade mesmo com o que o circulava, na ágora ou nas academias. Não somos cérebro - razão e emoções em doses necessárias - somos apenas corpo, músculo, albumina e suplementos alimentares. Devidamente estimulada pela mídia gangrenada que temos, estas práticas nos enfraquece, nos torna apáticos, insípidos. Cerebrotonia já, mesmo que a cidade se torne um pouco mais feia.

25 de julho de 2009

Quem tem ouvidos para ouvir...

Povo. Palavra feia. Muita gente confunde povo com nação, com Estado. Temos um dos povos mais feios do mundo, e isso não é motivo para honras. É só sair às ruas e constatar este dito. São milhares de pessoas, todas disformes, completamente, e a maioria é assim, por isso não há alarde. Fisicamente falando são bonitos. Mistura racial deliciosa, onde todas as cores se confundem numa aquarela fantástica de efeitos os mais diversos; narizes, bocas, feições, cabelos, corpos, todos moldados pelo acaso da pluraridade, isto trazendo aquela sensação de surpresa a cada esquina, não se sabendo o que encontrar no próximo minuto. Povo feio. Seu caráter, principalmente em sua ala mais pobre, é valoroso e imitável. procuram ser honestos, pagar as contas, serem solícitos. Mas que povinho mais feio! Criatividade deveria ser seu sobrenome. Burlam as tragédias cotidianas como um atacante maroto derruba um zagueiro distraído; se perdem o emprego, logo estão a desenvolver idéias para ganhar a vida, sendo bem sucedidos muitas vezes. Quando as coisas apertam, conhecem o caminho que sempre é o mais viável. É muita feiúra! Por que digo isso? Somos feios; deixamos as coisas acontecerem de maneira passiva; toda a sorte de injustiça é cometida e não há neste povo uma revolta, uma indignação sequer. Além de feios, somos burros. Sempre estamos cometendo burrices, permitindo um estado de coisas inconcebível, intragável. Um espelho gigante, de imagem sincera, captaria a imagem mais tenebrosa, mais assustadora. A feiúra se encontra em nossa teimosia doente de não nos mobilizarmos, não termos auto-crítica, não distinguirmos o que fazem conosco. Ao invés de pensarmos em tanta coisa, preferimos um bom tira-gosto e uma cervejinha gelada, deixando tudo isso para depois. Patrocinamos esta subjetividade lucrativa que é o estado brasileiro, e somos sempre seduzidos por gravatas, perfumes e palavras bem colocadas, empreando em nossas decisões a estética do mais simpático, não do mais competente. Feios. Deixamos nossos filhos a mercê de um futuro péssimo, que breve estará aí, soprando em nossas janelas o bafo frio da incerteza e do caos. Precisamos mesmo ficar assim, tão desfigurados perante os outros, ou já se foi o dia em que todos teremos esperança de mudar alguma coisa? Não somos feios, apenas mascarados com rostos horríveis; tirar as máscaras e desenvolver-se é crucial. Façamos Hoje.

O ônibus

Sempre achei o ônibus um excelente lugar para percepções do cotidiano. Somos indivíduos, e por isto mesmo não cedemos com facilidade aquilo que temos, principalmente espaço. O coletivo configura-se numa quebra deste paradigma; igualmente delimitados, a disposição dos assentos, dos corrimãos, proporcionam esta proximidade quase aviltante, invasiva, para alguns; bem-vinda e mesmo sexualmente proveitosa para outros. Pouco se conversa. Soslaios são eventuais, mas cheios de sisma.
Também encontram-se vidas que dependem deste veículo para estarem vivas. Sucedem-se a cada parada, mas são o retrato comum das cidades cada vez mais cosmopolitas e proporcionalmente desiguais. Vê-se nestes rostos muitas vezes a vontade de estar ali mesmo, naquele reduzido retângulo comum motorizado, participando daquela vida chata, sem graça, que muitos ali sentados estão a viver, com seus empregos e carreias em andamento. A violência não está excluída da viagem, para alguns passageiros a última de tantas, e onde a brutalidade, o ódio sem motivo por pessoas que nunca se viram antes, aglutinada a intensão de viver, ser notado, de estar em uma situação muitas vezes decisiva para si - a prisão, a morte - tomam conta e já se encaixam naquele cotidiano sem fim. Mas o que mais me incomoda é justamente saber que muitas pessoas que compartilham comigo um trajeto ás vezes curto, nunca mais cruzarão meu caminho. Tanta gente que não conhecemos e que estão disponíveis a nós nos ônibus, nas paradas, nos terminais, e nem nos damos conta de que somos coletivos, partilhamos idéias, concepções, fundamentos. O sistema que nos rege hoje nos torna mesquinhos, imparciais; tememos um primeiro contato, um sorriso, uma aproximação qualquer. Por conta do ônibus somos todos solidários uns com os outros. Nos causa revolta sua demora; sua chegada, alívio; recebemos os mesmos solavancos causados pelos buracos na rua; sofremos a dor irmanada de um acidente, de um assalto. Quando descemos em nosso destino, o coletivo prossegue, e com isso voltamos ao estado de liberdade individual que, no ônibus, tinha se perdido temporariamente. Este meio de transporte tornou-se um micro-exemplo do todo que somos. Andemos mais de ônibus!

22 de julho de 2009

Saiu calada, ainda a vestir-se,
Bateu a porta. Chovia.
Olhei pela janela, sob pingos muito grandes
Nem tinha guarda-chuva...
A sala, testemunha obrigada
Do fato preterido
Continuava solene
Luz? Um abajour.
Sentado na poltrona, já toda rasgada,
Um homem suspira, repleto de gozo,
Também por vestir-se, papéis sacudidos,
Houve violência há pouco...
Um papel, no entanto, restou impoluto
Grafia simplória, palavras malditas,
Aquela que há pouco deixara esta casa
Era a poesia, virulenta e desapegada...

Julio Silva - Maldições Poéticas e Cançoes do Agora



20 de julho de 2009

Eu recomendo! - 1984 - George Orwell

Clássico da literatura informativa, genial e engajada. Orwell desmascara por completo os reais planos de todo governo, além de nos proporcionar uma explicação plausível de que todos somos dominados, convertidos e manipulados por regimes políticos, sociais e ideológicos. Baixem e boa leitura!


http://www.4shared.com/file/5895321/e83aece3/1984_-_george_orwell.html?s=1

Frase de Astronauta...

"Estou agora no espaço, e não consigo enxergar nenhum deus..."

Yuri Gagarin

Por onde anda a Literatura engajada?

Tento escrever desde os 16 anos. Enveredar pelo mundo das letras parece ser tão difícil quanto sair dele quando somos acertados pelo seu fascínio. As fases literárias que inspiram-me já são passadas, uma pena irreparável. O que aproveitar da cena de hoje? Consumir verborragia e excremento literário não me parece coisa muito interessante, mas é isso o que se tem a oferecer. Um movimento literário tem, entre outros atrativos, o engajamento,a força criadora de mudar, revolucionar não só as letras, seu modo de aplicabilidade, mas mudar destinos reais, vidas presentes. Momento histórico não é preciso para se criar boa métrica literária; todo o espaço e tempo são propícios a esta produção, e a todo tempo nascem escritores - bons, razoáveis, ruins ou péssimos. Temos sido bombardeados com texto fácil e crocante; bom para comer, pensar nem tanto. Qual o motivo? cabeças ocas, sem pretensão de revolver-se e que apreciam um balançar de rede, com uma gelada água de côco e um livro para passar o tempo. Aquela rebeldia, aquela fustigação própria dos visionários, dos seres messiânicos, únicos profetas verdadeiros a inspirar mudança não existem por aqui. O que se vê é a timidez, a incapacidade, a boemia "status quo" dos botecos famosos, e todo este engodo midiático. O enfrentamento das situações que nos deixam tonto necessita destes pergaminhos que só uma palavra libertadora pode oferecer, mas onde encontrá-la? Paulo Coelho pode nos responder? Difícil.

19 de julho de 2009

Eu recomendo! - Jefté

Iniciarei neste espaço uma série chamada "Eu Recomendo". Trata-se de links, artigos, arte, teatro, música e afins com efeito reflexivo e/ou iconoclasta, servidno de apoio aos artigos publicados no blog. Hoje incio com uma estória bíblica. Muitas aparecerão por aqui, mas pretendo pôr apenas as mais significativas, aquelas que realmente trazem uma reflexão convincente. Indicarei o caminho, quem quiser pode conferir á sua maneira e tirar daí suas conclusões. O link é...

http://www.bibliaonline.com.br/acf/jz/11/1+

Copie, cole e veja com seus próprios olhos.

Os Ídolos-Humanos-Comuns

Vimos recentemente a exposição pública da vida, da carreira e da morte de uma personalidade mundial. Marcada por turbulências e desgraças, a existência de Michael Jackson, sendo analisada friamente, é reflexo de dor e angústia profundas. Hoje buscam-se culpados pela sua morte, mas todos sabemos quem os matou: a mídia e o fã. Este não é o primeiro caso de "linchamento coletivo" que causa o fim de um astro, de um ícone, de alguém que é espelho e molde para muitos. Parece paradoxal, mas estas estrelas são moldadas por aqueles que necessitam de um modelo a ser seguido; o artista e sua produção representam muito pouco de sua fama, de seu status. Aliás, muitas vezes o artista nem produz aquilo que gostaria, levado a compor, escrever, pintar a maioria, os gostos que vendem. Ninguém liga para o que esta "vítima" sente, pensa, analisa sobre o que acontece. Numa manisfestação de dupla personalidade, aquele que está em evidência torna-se obrigado a possuir atitudes públicas e privadas, sem saber o que é realmente aquilo que o representa. A grande maioria dos mitos era constituída de pessoas amarguradas, tristes, o contrário daquilo que sua obra ou persona refletiam, para os outros sufocados pela ganância das grandes companhias, pelo falso sentimento de saciedade, de reconhecimento. Os fãs, criaturas amorfas à procura de valores que entendem o ídolo os dará,constituem a própria razão de ser da dor do artista.Dicotomias? Porçoes de uma mesma coisa maluca? Creio ser este o fato. Na busca por novas expressões, novas canções, novas idéias, somos levados pela mídia a corromper o artista, tratando-o como mercadoria, mal apreciando o que ele quer trazer, levando falsas impressões, além de sermos responsáveis, muitas vezes, pelo choro, solidão, sofrimento e morte destes "ídolos-humanos-comuns".

12 de julho de 2009

A Semelhança entre Fé e Ciência

Categoricamente, fé e ciência sempre brigaram por um lugar ao sol e também um espaço na vida do homem. Esta luta perdura desde os tempos dos pré-socráticos, e hoje, em nossos dias, ambas tornaram-se sinônimo de última palavra em diversos assuntos. A religião, sempre a mais apressada das duas, ditou suas regras de maneira incontestável durante séculos a fio; basta lembrarmos da Idade Média e suas torpezas inquisidoras, que duraram até o século XIX apresentando a mesma intolerância, a mesma insensatez, a mesma tolice do seu início. Comanda a cabeça de milhares de pessoas ao redor do mundo, influenciando a vida de forma direta, absoluta, ditando quando, onde e como deve-se proceder para que a vida seja melhor, mais completa. os argumentos para isto? Deus, um ser improvável e distante, que governa o mundo com mãos de ferro e olhos atentos, pronto para mandar ao inferno qualquer um que tenha a audácia de seguir outra doutrina, outra forma de pensar. Convincente, não?
A ciência moderna, mais nova que a fé, trouxe este novo olhar sobre o mundo e sobre como homem deveria seguir. No início foi difícil suportar o jugo supersticioso da Igreja, que não queria de modo algum que as coisas dessem errado para ela, mas com o passar do tempo as pessoas foram aceitando de maneira mais salutar esta nova "fé". Sim, não escrevi errado; a ciência nada mais era do que fé, uma vez que o leigo, o homem comum, não podia ver nenhuma manifestação científica comprovada, feita in loco. Os novos "sacerdotes" não se diferenciavam dos antigos, que traziam os mistérios invisíveis do alto numa língua estranha - o latim - , vestida numa ritualística complexa e intragável. Os cientistas, muitas vezes, não se importam de trazer à luz, numa linguagem facilitada para a compreensão dos homens não "iniciados", as "verdades" que propõem; muita coisa ainda não se conhece na Natureza, e o que se tem de concreto acaba reservado para os profissionais de jaleco. Muitos ramos científicos, principalmente a Medicina que está mais próxima e que interfere diretamente no cotidiano, tem seu jeito peculiar de transmitir às pessoas o mundo daquilo que não se vê mas que se sente quando se vai a um consultório qualquer. Raramente há entendimento entre as partes envolvidas, e sempre o médico se sai melhor. Então temos duas formas de "verdade" que muitas vezes não esclarecem muita coisa, excluindo o comum, o não-letrado e o ignorante de suas revelações impositivas. Nisto ambas se parecem.

10 de julho de 2009

Em Busca de Um país Lobateano

"Um país só se constrói com homens e com livros." Assim Monteiro Lobato definia o que era necessário para o surgir de uma nação, um Estado, um povo. Poucas vezes viu-se na História um reino, um ducado, um principado, uma vila, uma cidade, qualquer aglomeração humana realizar esta utopia lobatiana; é certo que possuímos países com altos graus de cultura, muitas vezes fazendo parte da criação desta. Segundo a divisão marxista das nações, onde várias foram colônias e outras tantas colonizadas, as primeiras sempre impuseram suas diretrizes culturais, e as segundas eram obrigadas a retê-las, inclusive suas formas de ver e analizar a realidade.

Pouquíssima coisa temos com as grandes nações letradas do mundo. Portugal nunca esteve disposto a construir uma grande civilização entre os "selvagens", preferindo outras formas mais rentáveis de espoliação e domínio. Tínhamos aqui uma identidade, hoje já bastante divulgada e analisada, mesmo que se pareça bastante com a antiga forma de comércio ancestral; quase ninguém liga realmente para o que um pajé ou uma tribo faziam no meio do mato, mesmo sendo esta nossa expressão humana mais próxima. Prevaleceram as uiformidades, a cultura, a visão da realidade do dominante barbudo e alvo. Mas voltemos para o principal. Nosso país atravessa uma boa fase, onde a economia tem sido elogiada e alguns índices importantes têm sido alcançados na área social, mas ainda não é tudo. Não é só casa e comida que faz uma nação feliz. É preciso que aquele do início, idealizado por Lobato, aconteça. Como poderemos gerir as nossas finanças, nosas contas públicas, a saúde, a educação básica, a luta pela igualdade, contra as injustiças, como conseguiremos encarar este difícil regime - o da democracia - se nem mesmo sabemos como funcionam as leis, como somos regidos, o que a constituição determina, ou nem mesmo sabemos quem foi Machado de Assis? Neste proposital estado de coisas atuais, onde se escolhe entre comer ou ler, a massificação da informação pelos meios mais baratos - até ilegais - pode ser uma alternativa para se baixar o custo dos livros impressos e de outras mídias. Defendo sim o download, a pirataria, as formas mais econômicas de inclusão. Quando o valor for menos importante do que o serviço de utilidade pública do conhecimento destinado a qualquer público, e este possa pagar sem passar fome, aí a lei pode ser observada. Boicotes, passeatas, espaços comunitários de imprensa, divulgação de sítios com livros e documentários gratuitos, todo apoio deve ser estimulado para que o acesso seja maior e mais digno, atingindo o maior número de pessoas. Não nos enganemos! Enquanto não obtivermos um povo esclarecido, jamais seremos um país lobateano.

7 de julho de 2009

Polícia: Autoridade X Imbecilidade

Polícia. Qualquer um que entenda o mínimo sobre esta palavra sabe : quanto mais distante dela, melhor. O chamado "braço armado da sociedade" tem deixado a mesma em pânico, quando não deixa mortos e feridos por onde passa. Criada no intuito de executar as leis e fiscalizar a ordem pública , esta instituição promove, ao bel prazer, manifestações de arrogância, covardia, desprezo e inversão de valores. Como disse, seu objetivo é fiscalizar o cumprimento da Lei, ordenada por um congresso nacional, instituído pelo povo... esperem aí? O maior prejudicado com as ações truculentas da PM não é justamente o povo? O mesmo povo que elege maus políticos, que consequentemente criam leis atrasadas e cheias de falhas absurdas, que no final são fiscalizadas por incompetentes policiais, ávidos a manter o cabresto social... é mesmo tudo uma grande bola de neve. O povo, do chope do domingo, da praia no sábado, do feriado na sexta, este mesmo povo, que acaba sendo trucidado por seus párias fardados.
Mas o que se passa na mente de um policial mediano nas grandes cidades do país? Filho de pais de classe reprovável, inscreve-se num concurso onde milhares de indivíduos como ele esperam a chance de terem poder. O dinheiro conta muito, é verdade, afinal, ele não gostaria de perpetuar a herança condicional dos seus genitores; viver de maneira paupérrima em algum bairro marginal. O governo garante um salário baixo, medíocre mesmo, não por causa de sua arrecadação, mas porque duas coisas não podem ser colocadas nas mãos do populacho: dinheiro , mais do que o necessário para comer e procriar, e autoridade, independente do nível. Passado o período que corresponde ao treinamento e aperfeiçoamento dos praças que irão às ruas salvaguardar a mim e a você (curso este que inicia o futuro policial nas práticas hediondas da discriminação, preconceito, desconfiança excessiva e modos violentos de abordagem) este jovem está a serviço do cidadão comum; recebeu do estado uma parcela milimétrica do poder que gere o contrato social, mesmo assim imagina-se grande, imponente, superior àqueles que realmente possuem o poder, desta vez majoritário. Os socos, piadas, insultos, humilhações, e até mesmo execuções sumárias de cada dia nos mostram isso da maneira mais revoltante.
Hoje a polícia é temida, não respeitada; é indesejada, tida como repressora (pura verdade), e insensível às situações presentes nos diferentes agrupamentos humanos. Pobres diabos sentindo como se fossem senhores de nossas vidas, reguladores de nossos atos e, acima de qualquer coisa, imponentes super-humanos, que não sofrem as espoliações, a mendicância, a opressão destinada a nós, seres baixos. Só um imbecil para não perceber tudo isto.

6 de julho de 2009

Vivendo de Pão e Circo... até quando?

Todo mundo aprecia um bom espetáculo. O artista, longe de trazer o real frio, medonho, igual do cotidiano, é tomado pelo dom do ludibriar para fazer uma platéia real encantar-se com o imaginário, e quase sempre dá certo. Aliás, em algumas situações sempre dá certo. Vejamos a política brasileira.
Conturbações de ordem administrativa, provocadas com certa regularidade pelos agentes públicos, têm sido o calo de muitos governos no mundo. O Brasil tem cadeira cativa nesta matéria, uma vez que nunca houve "Ordem", mesmo que tenha havido um certo "Progresso" por aqui. Se perguntássemos a qualquer indigente nas portas das igrejas em qualquer grande cidade nacional qual o seu maior motivo de vergonha, não demoraria muito e logo viria uma resposta categórica - "a politicagem brasileira". Perceba que "politicagem" é algo extremamente pejorativo, a saber, a bandalheira, a arruaça, o banditismo utilizando um mote político. Será que no Brasil a coisa deve realmente ser tocada assim? Apenas nós, cidadãos brasileiros, temos o "privilégio" de assistir a tamanho evento, e nos remediarmos num sentimento medíocre de apaziguamento? Thoureau dizia que se financiamos um governo corrupto, logo somos corruptos; não podemos espalhar aos quatro ventos que somos honestos e morais, se com nosso dinheiro proporcionamos a trapaça, o roubo, o pão e o circo dos homens do poder. Uma brincadeira que nos custa muito, muito caro, e que mata, diariamente, milhares de pessoas - de fome, de frio, de moléstias primitivas, de espera em filas, de vergonha. Ser expectador deste teatro dos horrores significa estar condizente com ele, em conluio com ele; nós, com o trabalho e cargas tributárias, eles, com putas, mordomia e luxo, sem o mínimo esforço. Não somos tão covardes quanto eles? Somos vítimas, ou verdadeiros fingidos? Por onde andam os intelectuais, sempre medrosos; os formadores de opinião, protegidos pela carcaça da inviolabilidade midiática; a universidade, sempre reservada e apática; os artistas, que ganham o metal cobiçado, cospem no povo e vão embora? Perguntinhas difíceis, não? Não. As respostas todos nós sabemos bem, e não se encontram num futuro próximo, nem nas próximas gerações, nem na cidade mítica de ouro e jade acima de nós. Instrução. Educação política. Informação abalizada. Participação popular. Enganjamento cívico. Vergonha na cara. O que você me diz?

5 de julho de 2009

Os perigos da Ortodoxia

Numa tarde de sábado, estava eu sentado num banco de praça, aqui perto de minha casa, ocioso. Aproximou-se de mim um jovem, eu diria um menino, com seus 16 anos, trazendo consigo um livrinho familiar a qualquer ocioso das praças por aí: A bíblia. Logo imaginei duas coisas: 1 - teria que exercitar mais uma vez minhas noções de educação e , 2 - minha falta do que fazer havia acabado. Não chego a fazer o que a maioria das pessoas costuma - repelir estes jovens pregadores - do contrário, sinto-me no dever de travar algum diálogo interessante (quando é possível), sempre prezando pelo bom senso e pela discrição. Claro que a coisa muitas vezes toma o rumo de um monólogo, quando eles tomam a palavra e não a concedem mais, mas eu insisto, e algumas vezes pude retirar algumas conclusões. Este caso que trago foi o mais medonho e triste que vi nos últimos tempos. Como disse, o rapaz aproximou-se e disse: "posso ler a palavra de deus para você?" É estranho que os deuses sempre precisem de porta-vozes para falar por eles, e estes possuem toda uma técnica, toda uma abordagem enfática para envolver os ouvintes. Permiti que ele desenvolvesse seu raciocínio, e imediatamente falou-me sobre o pecado. Citou alguns versículos que traziam o ser perverso que o homem havia se tornado, suas ações bestiais e, consequentemente, o fim que este pecado trazia à pobre alma contaminada por tais feitos: o inferno. Causa-me novamente estranheza que o merchandising judaico-cristão sempre traga a parte ruim da coisa. Dá-se mais vasão ao inferno, aos poços de fogo e enxofre, ao demônio flamejante com seus auxiliares não menos cruéis, ao ranger de dentes, ao afastamento de deus, á tragédia e ao medo, do que os benefícios que uma possível conversão poderia trazer. Com uma certa lógica o procedimento deveria mesmo ser este. Como a monotonia de um lugar onde as pessoas cantarão louvores por toda a eternidade, onde o sexo e os vícios não são tolerados, nenhuma baderna, nenhum tipo de contravenção, pode atrair qualquer ser racional, principalmente jovem? Mas como não queria interrompê-lo naquele momento, deixei estas considerações de lado. Quando finalmente foi-me dada a oportunidade de algumas réplicas, fiz com ele uma transferência de situação para formular uma pergunta. Pedi que ele visualizasse a si mesmo tendo uma visão, uma revelação divina, sendo arrebatado, ou algo do gênero. Neste momento, o texto a ser dito pelo mensageiro de deus é o mesmo daqueles relatados pela bíblia, afirmando que ele era um bom servo, sem qualquer mácula, o ser ideal para fazer a vontade dos céus sem questionar seus valores, sua aplicabilidade ou mesmo sua decência. Então esta voz tremenda ordenava que ele deveria ir até a praça mais próxima e matar o primeiro ser humano que encontrasse ( como disse, os motivos não precisam ser ditos, primeiro pela cega convicção de que deus sabe o que é melhor para sua criação, e segundo que não seria muito divino explicar à criatura os propósitos do criador). De maneira crédula e fielmente convicta, aquele garoto, agora tomado pelo orgulho de fazer parte da grande corporação dos santos obedientes e igualmente imbecis do reino dos céus, parte em busca do cumprimento do dever celeste. Adentrando na praça mais próxima, como havia predito o Senhor, ele encontrasse a mim, uma pessoa que ele jamais havia visto ou cumprimentado na rua, que não conhecia o nome, a origem, a estória de vida, a família, os filhos, os planos, os projetos, as realizações; não sabia nem mesmo o que estava fazendo ali, naquela hora. Nada disso havia sido revelado junto com a missão, talvez por pura crueldade ou mesmo por esquecimento, mas não importa, o que havia de ser feito, deveria ser feito. E ali, diante do alvo escolhido, num segundo de lucidez, eu quis que ele me respondesse: " Você me mataria e cumpriria o propósito de deus na sua vida, sabendo que o efeito de tal ação o levaria à cadeia por um longo espaço de tempo, e consequentemente traria a desgraça à sua própria família, amigos, etc?"; ele nem pestanejou ao responder: " Sim, eu mataria você, porque o Senhor assim quis!" Uma reação instintiva a qualquer humanista seria o espanto, uma reprovação e, automaticamente, a ojeriza e o desprezo ao autor da resposta, mas comigo veio algo a mais. Pesar. Como pode existir, tão próximo a mim, alguém tão jovem com uma mentalidade tão descabida e tola, própria dos homens mais obtusos? Como aquela vida ainda no início estava sendo disposta por alguns "anciãos" e "líderes" a entender um livro paradoxo e cheio de absurdos como algo verdadeiro e "santo"? Por que não existe uma contrapartida ideológica, moral, capaz de trazer a estas mentes um outro lado, menos violento e degradante, que possa impregnar o ambiente de racionalidade básica para se viver melhor? Ter pesar de algúem é muitas vezes ver um estado irreversível e nada poder fazer para modificá-lo, assim me senti naquela hora, e assim me sinto ainda hoje, quando lembro desta triste ocasião. A ortodoxia, em qualquer âmbito, é tão perniciosa quanto um vírus mortal, e mais fácil de ser inoculada nos organismos menos resistentes. Pretendo ser um imunizador contumaz.

4 de julho de 2009

Criando Oportunidades...

Um blog que trate de assuntos escancarados e ácidos é sempre visto com suspeitas e com certo asco pelas pessoas. Afinal, feridas são boas quando em seu estágio intermediário, revestidas por uma crosta protetora a qual esconde a carne viva, fragilizada. Retirada esta capa, todo tipo de "impurezas" nocivas podem comprometer e infeccionar estas erupções. Quando abertas, exalam o mal cheiro da hipocrisia, da farsa, expõem a verdade sobre seu estado, e isto ninguém quer. Creio que talvez seja este o problema. Não admitimos nos expor, mostrar as chagas, ao invés disto remediamos com curativos superficiais, que nos impedem à cura definitiva. Sempre deixamos o depois nos envolver significativamente, mascarando nossa vida por completo, isto em todas as esferas. Por que procedemos desta forma? Por que insistimos em deixar para depois assuntos que urgem, que necessitam de esclarecimento definitivo? Nós criamos oportunidades, desde que descemos das árvores, para que a existência humana possuísse algo a mais, maiores chances, maiores perspectivas; este esforço também provocou o aparecimento de diversas mazelas, feridas purulentas passadas quase como ancestralmente, e que hoje sujam o currículo de realizações magníficas que concretizamos. Pretendo neste blog apresentar algumas destas oportunidades, como nós pudemos chegar até aqui , e também algumas feridas encobertas, de modo cru e áspero, como um fármaco cicratizante, capaz de pelo menos trazer a discussão os pontos que nos entravam, que nos denigrem, e suscitar soluções. Que este espaço torne-se um ponto de apoio para humanistas e agentes que esperam um mundo pelo menos mais ciente de suas máscaras e conflitos.