6 de julho de 2009

Vivendo de Pão e Circo... até quando?

Todo mundo aprecia um bom espetáculo. O artista, longe de trazer o real frio, medonho, igual do cotidiano, é tomado pelo dom do ludibriar para fazer uma platéia real encantar-se com o imaginário, e quase sempre dá certo. Aliás, em algumas situações sempre dá certo. Vejamos a política brasileira.
Conturbações de ordem administrativa, provocadas com certa regularidade pelos agentes públicos, têm sido o calo de muitos governos no mundo. O Brasil tem cadeira cativa nesta matéria, uma vez que nunca houve "Ordem", mesmo que tenha havido um certo "Progresso" por aqui. Se perguntássemos a qualquer indigente nas portas das igrejas em qualquer grande cidade nacional qual o seu maior motivo de vergonha, não demoraria muito e logo viria uma resposta categórica - "a politicagem brasileira". Perceba que "politicagem" é algo extremamente pejorativo, a saber, a bandalheira, a arruaça, o banditismo utilizando um mote político. Será que no Brasil a coisa deve realmente ser tocada assim? Apenas nós, cidadãos brasileiros, temos o "privilégio" de assistir a tamanho evento, e nos remediarmos num sentimento medíocre de apaziguamento? Thoureau dizia que se financiamos um governo corrupto, logo somos corruptos; não podemos espalhar aos quatro ventos que somos honestos e morais, se com nosso dinheiro proporcionamos a trapaça, o roubo, o pão e o circo dos homens do poder. Uma brincadeira que nos custa muito, muito caro, e que mata, diariamente, milhares de pessoas - de fome, de frio, de moléstias primitivas, de espera em filas, de vergonha. Ser expectador deste teatro dos horrores significa estar condizente com ele, em conluio com ele; nós, com o trabalho e cargas tributárias, eles, com putas, mordomia e luxo, sem o mínimo esforço. Não somos tão covardes quanto eles? Somos vítimas, ou verdadeiros fingidos? Por onde andam os intelectuais, sempre medrosos; os formadores de opinião, protegidos pela carcaça da inviolabilidade midiática; a universidade, sempre reservada e apática; os artistas, que ganham o metal cobiçado, cospem no povo e vão embora? Perguntinhas difíceis, não? Não. As respostas todos nós sabemos bem, e não se encontram num futuro próximo, nem nas próximas gerações, nem na cidade mítica de ouro e jade acima de nós. Instrução. Educação política. Informação abalizada. Participação popular. Enganjamento cívico. Vergonha na cara. O que você me diz?