28 de maio de 2010

Eis-me

Hoje sou a espera

O aguardar do tempo, da vontade

Agora mesmo digiro o tédio

Das companhias, das impressões,

Sento e acendo mais um cigarro,

O melhor mesmo é introverter-se

E cuidar da manutenção de si,

Nada das conveniências da procura

Apenas o eu, o bastante

O tolerável...

Costumes do Lar

O café sempre era posto às 07:14,
Banho sempre antes do almoço,
Mãos limpas, sentar-se corretamente
Sexo aos sábados á tarde
Aproveitando a monotonia da TV,
Um cigarro sossegado no terraço, conversas bobas
Cama enorme, dia cheio, todos a dormir
Repletos do sono que vem da fadiga;
O café hoje foi posto às 09:12
O pão não está assado como deveria,
A toalha, ainda molhada de ontem
Revela o desleixo de alguém outrora atencioso...
Neste sábado tem final de campeonato
E a transa ficou pra depois
A grana acabou, inclusive os cigarros,
Caras feias no terraço, disputas, palavrões, DRs infindáveis;
A cama agora é minúscula
Quase microscópica,
A fadiga ainda continua,
Tudo regado a boa dose de tédio,
Quem ainda não percebeu
São estes apenas costumes do lar.

Desabafo Para Deus

Sempre ouvi que a pior ousadia
Era olhar para o céu com cara feia,
Malcriação nunca foi tolerada por Ele,
Que fez a criança e a armou para a guerra;
Curiosidade atingiu status de pecado,
Desafiar é verbo impossível em bocas divinas,
Só o homem digere esta linguagem
E traduz para o Velho Caduco, no alto do Monte;
Sempre fui ousado e infame,
Deus vacilou ao fazer-me
Deixou sua própria crítica, porção minúscula, em minha alma
As piores caretas, os maiores palavrões,
Sem receios... apenas certezas...
De que não há nada nos céus
Além de estrelas maravilhosas...