30 de março de 2010

Dedicatória

Ao primeiro infeliz
Que chorou por conta do amor
Ofereço, sorridente, um gesto obsceno
Ao último ser iluminado,
Que pulou da mais alta ponte
Em honra a uma vida que queria ter e não pode
Dedico, lacrimoso, um drink do melhor vinho
Aquele destinado aos sãos.

Ensaios do Sentir

Foi mesmo ali, naquela rua
Que um dia vi alguém me dizer até mais
Ando a deriva desde então
Porque quis
Nada pedi em troca
Apenas a calma que me falta
A arrogância que me prende
A reflexão mais aguda
Deixei tudo como estava
Todas as impressões
As vagas que o mar me fez
Qualquer banco é aquele
Que um dia ela sentou
Os bolsos já afagam minhas mãos
Eles as abrigam , em lugar do teu rosto
Rosto de pele fina, suave
Um nariz que gostava de tocar
As mãos tocaram-te
Não tocam mais
Apenas o pensamento
E este se faz mais presente, ainda
Naquela rua não passo mais.

O Observar da Águia

Observar é um momento em que o animal está se preparando para a caça
Aguardando o momento oportuno
Mas muitas vezes ele não vai... porque o que o completa, a sua vítima, não dá sinais de que Está disposta
Então ele recua...
Fica só observando...
Até que outra presa melhor se aproxima, aquela outra já era...
Vai viver por enquanto para ser tragada por algum animal inferior a águia
É mais ou menos assim...
Eu prefiro ser tragado por um animal superior
Já que vou morrer...
Seria detestável morrer em mãos de seres indignos
A partir deste momento, pretendo pôr no blog algumas poesias que venho escrevendo, no intuito de, no final do ano, publicar tudo em um pequeno livro " Poesias, Contos e Iconoclastias". Espero que apreciem os trabalhos que serão colocados, e brevemente novos contos e abordagens literárias serão publicadas.

Iniciarei com um trabalho chamado "O Poeta Maldito". Eis:

O poeta maldito

Ser dos mais agradáveis

Chinelos sujos

Camisa insalubre

Com calças por polir

Estranho e medonho

Sua companhia é querida dos póstumos

Sua distância evidencia sensatez para os tolos

Ele ri de toda a procura insana dos comuns

Pela tão sonhada felicidade

A felicidade, por si só, já é sofrimento

Quantos músculos empenhados?

Tantas veias trabalhadas?

Um maldito apenas ri de tudo isso

Já sabe que a luta é vã

Deixou-se possuir pela tragédia que persegue

Todo desgraçado Homo Sapiens que respira neste mundo

Sentiu-se leve

Leveza que traz o entendimento, a sobriedade

Sabe bem que todo desejo leva ao mal

Quando não é saciado

Maldito seja! Pequenos garotos são seu séquito

As crianças mimadas do Salvador

Vieram para o lado correto

Da peçonha inventada

Escutem a voz da juventude amaldiçoada!

Eles serão os próximos profetas

A anunciarem a próxima salvação inútil

Ah, querido poeta maldito!

Vocifera, alardeando o saque aos incautos

Tudo está perdido...

Não há escape possível...

E de uma marquise qualquer, lá estarão dois olhos

Igualmente feitos malditos

Igualmente desgarrados

Suaves e desinteressados.