25 de setembro de 2009

Um pastor, Um pai, Um canalha (parte 2)

Ele sabia. Aquele maldito sabia que eu estava ali, percebendo tudo., resignado. Marly já estava se contorcendo como podia, não havia como escapar daquelas mãos sediciosas, cheias de pecado. 13 anos. Já sabia muito bem o que significava aquela palavra tão usada em todos os tempos por todos os cristãos do mundo. Pecado. Não eram aquelas atitudes bestiais do querido pastor Tobias , centro de equilíbrio e moralidade da igreja, nítidas expressões do erro, da abominação? Quando chegávamos em casa, dos eventos na igreja, era sempre a mesma coisa; melhor dizendo, dois eventos se revezavam com maior frequência: ou ele brigava com a pobre Marly, devota e silenciosa, aguentando os chutes, os tapas na cara, os puxões de cabelo e os xingamentos aviltantes, ou, como naquela oportunidade, mal entrávamos e ele ja estava com o zipper aberto, membro duro, vontade insaciável; Marly suada, nitidamente constrangida, me acompanha até o quarto, liga o abajour, abre a bíblia e me manda ler, atento, versículos que eu já cansei de decorar. Era uma exigência do pastor Tobias; deveria ler a bíblia com assiduidade, jamais me afastando dos seus preceitos, daquilo que estava escrito ali. Este livro sempre foi uma boa fonte de inspiração para aquele idiota . Toda a torpeza de espírito estava ali descrita, pronta, sem rodeios, facilmente acessível e praticável. Não suportava mais ler aquela baboseira toda, ainda mais obedecendo aquele crápula. Agora podia ouvir a cama ranger violentamente, e os gemidos da pobre Marly já não eram discretos como no carro. Não era prazer. Era violentada sempre, e nada podia fazer; era mulher, crente; quem daria ouvidos? Toda a sua vida foi uma violência ao lado daquele marido ríspido e cruel, amante do sexo e do egoismo, e toda vez que ele conseguia cuspir dentro dela, a deixava como um trapo, um amontoado de lixo a transpirar, respirar. Eu sabia que ele vinha depois daquilo verificar se eu estava lendo a maldita bíblia. Sempre me encontrava de costas para a porta, em pleno suplício de ter que mais uma vez fingir que não ouvi nem entendi nada daquilo que se passava naquele quarto, diariamente; deveria ler a palavra , aprendendo e revigorando meu espírito. Modifiquei a decoração do quarto com o intuito de não deperar-me com ele, nunca; sentia a sua presença asquerosa mesmo assim, muitas vezes, quando vinha e dizia que aquele trecho que eu estava absorvendo era "importante para a formação do caráter do crente, do homem de Deus" ; a passagem? Abraão e Isaque, prestes a ser degolado. Aquilo era edificante? Suportar tudo isso durante mais tempo era a última coisa que queria...

Continua.

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